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A cura é das mulheres

  • Foto do escritor: Thamiris Pinheiro
    Thamiris Pinheiro
  • 17 de jan. de 2020
  • 4 min de leitura

Por Thamiris Pinheiro, 16/05/2019


Mulheres lideram movimento de expansão de consciência e retomada do sagrado feminino


Curandeiras, feiticeiras, bruxas. Ao longo da história, foram muitos os nomes com que mulheres que buscaram entender o sensível da vida, sua dimensão espiritual e desenvolveram métodos de cura das dores internas foram chamadas. Hoje, elas não são mais perseguidas e jogadas na fogueira e, pelo contrário, querem estar em evidência para cumprir o que chamam de suas missões: promover o desenvolvimento pessoal.


Essa é uma área que busca melhorar a qualidade de vida das pessoas através de ferramentas como o autoconhecimento, a interiorização e a meditação. Tais saberes foram monopolizados ou permaneceram restritos aos homens durante séculos, seja pela religião - que tinha apenas nas figuras masculinas seus grandes líderes - ou pela ordem social baseada no patriarcado - que desencoraja as mulheres a pensarem sobre a existência e adquirirem consciência sobre si para que não se empoderem.


Para além do estereótipo de sensitivas ou místicas, as mulheres que escolhem traçar esse caminho são estudantes, mães, ativistas e trabalhadoras como tantas outras. Algumas tornaram essa aptidão o seu “ganha pão”, como a educadora emocional Flávia Melissa. Formada em psicologia pela Universidade Mackenzie, em São Paulo, Flávia desistiu de exercer a profissão tradicionalmente nas clínicas e resolveu abraçar o seu chamado interior. Desde 2012, compartilha material motivacional de autoconhecimento nas redes e foi eleita uma das 14 YouTubers brasileiras para se acompanhar pelo jornal O Estado de São Paulo. O seu primeiro livro, “Sua Melhor Versão - Desperte Para Uma Nova Consciência”, alcançou a marca dos mais vendidos e virou best-seller no Brasil.


Flávia Melissa é uma das mulheres à frente dos movimentos de expansão de consciência. (Foto: Arquivo Pessoal)

Mais do que um processo de expansão, a educadora emocional acredita que o termo desenvolvimento tem um significado de “des-envolver”, ou seja, deixar de estar envolvido com algo para, assim, poder evoluir.


“No meu caso, eu precisei muitas vezes deixar de estar envolvida com dores do meu passado, com questões de infância, com problemas familiares, com crenças negativas que eu tinha em relação a mim mesma. Então o meu processo de desenvolvimento pessoal veio pela minha necessidade de superar algumas questões”, explica Flávia.


O ser humano é um ser social por essência e, quando vivencia processos, tem a necessidade de compartilhá-los com seus semelhantes. Isso não foi diferente para Flávia Melissa, que a partir da tomada de consciência pessoal, quis dividir essa experiência com o coletivo. No entanto, se sentiu sozinha, já que seus interesses atuais já não combinavam com os padrões e relações que tinha antes.


“Eu realmente não tinha com quem compartilhar isso e aí eu comecei a gravar vídeos para compartilhar com as pessoas que eu não conhecia, coisas que as pessoas que eu conhecia não se interessavam. E depois passei me dedicar a levar conteúdo desse teor para as pessoas através da internet, que hoje possibilita que a gente compartilhe conhecimento com os quatros cantos do mundo”, conta.


Além dos vídeos e postagens diárias nas redes sociais, hoje ela comanda o Portal Despertar, plataforma que criou para promover o despertar coletivo. Flávia acredita ser essa uma das chaves para a superação de comportamentos negativos que a sociedade de modelo patriarcal enfrenta, como a competitividade.


“O retorno que isso traz pra mim, claro, é o financeiro, porque esse é o meu trabalho, mas é principalmente a sensação de estar fazendo a minha parte pro mundo ser aquele que eu quero deixar para os meus filhos”, declara.


Com um público de maioria feminina, a educadora acredita que as mulheres estão mais dispostas a passar pelo processo - muitas vezes doloroso - do autoconhecimento, por sua essência mais aberta à vulnerabilidade. Desde que se tornou mãe, Flávia passou por um processo de cura e descoberta do seu sagrado feminino. Isso refletiu em seu trabalho, que passou a englobar mais questões deste universo.


“A sociedade centrada no patriarcado faz com que nós mulheres enfrentemos as outras mulheres como oponentes, mas uma sociedade voltada para os valores que regem o feminino é uma sociedade em que a generosidade, a compaixão e o compartilhamento se fazem valer. Eu acredito que esse movimento de reunião de mulheres em tornos dos seus saberes ancestrais é o que vai realmente transformar a sociedade e transformar o mundo”, diz a educadora.


Flávia em um encontro com participantes do Portal Despertar. (Foto: Arquivo Pessoal)

Os escândalos recentes envolvendo grandes líderes do desenvolvimento pessoal e da espiritualidade, como o médium João de Deus e o guru Sri Prem Baba, ambos acusados de abuso sexual por seguidoras, podem causar descrença quanto a esse tipo de trabalho e métodos. Para Flávia, é essencial discutir sobre esses casos.


O que que eu penso a respeito da queda desses líderes espirituais é que todo processo de crescimento do ser humano envolve a formação da sombra. E isso é exatamente que aconteceu com eles: os aspectos sombrios vieram à luz porque a gente tá vivendo uma era em que a sombra não fica mais debaixo do pano durante muito tempo”, declara.


Flávia crê que uma nova abordagem nesses movimentos pode se sobrepor aos aspectos da masculinidade tóxica que ainda predominam.


“Eu acredito que quanto mais mulheres a gente tiver à frente dos movimentos de desenvolvimento pessoal e de expansão da consciência, mais a gente vai ver os valores de aceitação pessoal, de aceitação das próprias vulnerabilidades e das próprias fragilidades serem praticados. E quando isso é feito, os aspectos sombrios são praticamente enfraquecidos”, conclui a educadora emocional.


Para o ano de 2020, Flávia Melissa pretende organizar uma viagem de imersão para mulheres focada no desenvolvimento pessoal e cura do feminino. Com um formato inovador, a proposta será “familly friendly” (adequada para famílias, em tradução livre): a viagem aceitará crianças, companheiros e companheiras, e qualquer rede de apoio que essas mulheres precisam manter por perto para participarem do processo e não se sentirem excluídas - já que ela entende que nem todas podem deixar a vida e as obrigações um pouco de lado para investirem exclusivamente em si mesmas.

 
 
 

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